segunda-feira, 4 de maio de 2009

Em defesa da Festa (III)

Como observa o filósofo francês Francis Wolff, no seu livro «Filosofía de las corridas de toros» (Edicions Bellaterra, 2008), a força do animalismo tem uma dupla origem. «Por um lado, a modernidade ocasionou um aumento dos maus tratos a numerosas espécies ao reduzi-las ao estado de mercadorias; a sensibilidade contemporânea comove-se legitimamente ante as
abjectas condições de vida concedidas aos frangos criados em aviários ou aos porcos privados de luz e espaço.» Por outro lado, por influência das teorias morais e jurídicas anglo-saxónicas, «uma boa parte da problemática moral está agora dominada pelo conceito ético-jurídico de ‘direitos’ (‘tem-se direito a’) e ‘o animal’ passa a ser um novo sujeito desses direitos.» É preciso sublinhar, em primeiro lugar, que não se pode falar em Animal, mas em espécies animais, cada uma com as suas características próprias, que justificam tratamento diferente por parte do homem. No caso concreto do touro, existem profundas diferenças entre ele e os outros animais, não apenas ao nível etológico (comportamental) como também das condições de vida. Na sequência do que afirma Francis Wolff, os frangos de aviário ou os porcos são tratados pela sociedade industrial como uma mercadoria. Alimentados à força, criados num espaço mínimo, abatidos mecanicamente, são reduzidos à condição de «coisas», sem dignidade nem individualidade. Exactamente o contrário do que sucede com o touro. Um touro possui uma «personalidade» enformada por uma qualidade a que se chama bravura, e que o distingue dos restantes animais. Depois, não é criado numa linha de produção, como os animais de aviário, mas sim em campo aberto, com o espaço de que a sua dignidade de animal especial necessita. Ao longo da sua existência, um touro goza do respeito de que a maioria dos animais não usufruem. Para este estatuto especial contribuirão também as reminiscências dos tempos em que o touro era considerado um deus, por algumas civilizações. (Continua)

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