quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Bibliotaurus (1)


A biografia é um dos géneros desde sempre privilegiados pela literatura de tema tauromáquico. Raro é o toureiro de fama cujos trabalhos e dias não foram contados, com maior ou menor fortuna, em letra impressa. Uma das melhores obras do género é «Juan Belmonte, matador de toros», do jornalista sevilhano Manuel Chaves Nogales (1897-1944).
Como realça a também jornalista Josefina Carabias no interessante epílogo à obra, Chaves Nogales não era aficionado, nem mostrava o menor interesse pela vida taurina. Resolveu escrever sobre Belmonte levado apenas «por el interés que despierta siempre en el escritor un tipo humano de carácter excepcional.»
A história é contada na primeira pessoa, mas por detrás do monólogo belmontino está Chaves Nogales e a limpidez da sua linguagem. De acordo com Josefina Carabias, não há nela «exageraciones, ditirambos, tecnicismos ni latiguillos». Daqui resulta a legibilidade das suas páginas, que a torna acessível a todos. Não é preciso ser-se aficionado de solera, nem conhecer a fundo o argot taurino para saborear o trabalho de Chaves Nogales como quem saboreia uma excelsa faena.
Pelas páginas do livro, publicado em 1935, perpassa um Belmonte de coração aberto, que recorda o seu debute em Elvas, numa quadrilha de niños sevillanos, as inúmeras dificuldades para impor o seu original toureio, o convívio com os intelectuais seus partidários e por fim o triunfo – ensombrecido pela trágica morte de Joselito, o rival com quem viveu aquela a que chamaram a Idade de Ouro do toureio.
(«Juan Belmonte, matador de toros», Alianza Editorial, Madrid, 2003)

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